O agronegócio brasileiro é forte, resiliente e dinâmico. O setor, que apresentou dois recordes seguidos na participação do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2020 e 2021, deve fechar 2022 com 26,24%, conforme uma estimativa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. Embora inferior aos 27,6% registrados em 2021, a porcentagem permanece expressiva para o desenvolvimento do país.
O crescimento e a força do setor na economia nacional têm desencadeado movimentações frequentes no mercado. Exemplo disso são grandes fundos de investimentos, empresas e traders anunciando a aquisição e fusão de revendas agrícolas.
No centro de toda essa agitação estão os insumos. Este segmento apresentou crescimento no PIB do primeiro trimestre deste ano de 9,61%, resultado das valorizações de fertilizantes, defensivos e, também, máquinas agrícolas.
O ponto chave para entender o agronegócio do amanhã, com isso, é entender que a forma de distribuição dos insumos está mudando. A realidade desse setor está mais dinâmica do que nunca.
O que esperar, então, para os próximos anos?
1 Avanço tecnológico
O avanço do “agro 5.0” tem marcado a crescente digitalização do setor. A conexão tecnológica das etapas do processo de produção, trabalhando de forma integrada, foi acelerada pela pandemia da Covid-19 e, em especial, pelas agtechs, startups que desenvolvem soluções inovadoras para o agronegócio.
Um levantamento do Radar Agtech Brasil 2020/2021 identificou 1574 agtechs no país. Só em 2021, o investimento nesse setor foi de R$ 3.5 bilhões. Com isso, o uso da robótica e outras tecnologias preditivas tem se intensificado e auxiliado os agricultores a produzir mais, melhor e com menor custo.
Mas, para falar de avanço tecnológico nas propriedades, é preciso, também, se atentar para os desafios desse processo. Conforme uma pesquisa de 2020 da Embrapa, 61% dos agricultores declaram que a conectividade é a principal dificuldade para o uso da internet nas fazendas. Realidade essa que deve ser amenizada com a chegada da cobertura 5G no campo e de soluções de internet banda larga alternativas como a rede Starlink, da SpaceX, do Elon Musk.
Olhar para essa crescente digitalização também é se preocupar com a mão de obra especializada e com a ascensão de novos modelos de negócio, resultado da introdução de novas tecnologias nesse cenário. Esta, por sua vez, só será transformadora quando se tiver pessoas que saibam extrair o melhor que ela tem a oferecer e quando olharmos para ela como meio e não como fim.
2. Vendas online
Com o avanço das tecnologias e a conectividade no campo, outra tendência que tem marcado presença no agronegócio é a das vendas online. Mais de 40% dos produtores do país já tiveram alguma experiência com compra e venda de insumos e produtos agrícolas por plataformas digitais, conforme uma pesquisa realizada pela Embrapa, em 2020.
Essa tem sido a aposta de grandes empresas. Entre elas, podemos citar a Orbia, lançada pela Bayer, com sociedade do Itaú Unibanco e da Yara; a do Clube Agro, primeiro programa de relacionamento multimarcas do agronegócio brasileiro; a do Supercampo e a da Lavoro, com o marketplace Compre Lavoro/aplicativo Minha Lavoro.
Outro ponto importante de se pensar é em relação ao impacto que essa dinâmica de comercialização pode gerar aos modelos de acesso ao mercado, como os distribuidores e as cooperativas. Se eles quiserem se adaptar a esse cenário, vai ser preciso repensar o relacionamento com os produtores e as novas tecnologias.
3. IPO
Outra tendência forte para o agro é a abertura de capital (IPO) na Bolsa de Valores. O movimento deve ser intensificado pela expectativa de alta das commodities no mercado global e atuar como uma forma de levantar recursos e conseguir investimento.
A participação do setor na Bolsa também tem recebido incentivos com a criação do Fiagro, o Fundo de Investimento nas Cadeias Agroindustriais, que funciona de maneira semelhante aos Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs), além da Letra de Crédito do Agronegócio (LCA).
Entre as principais ações do setor que já se encontram na Bolsa estão a Brazil Agro (AGRO3), AgroGalaxy (AGXY3), Kepler Weber (KEPL3), Raízen (RAÍZ4), SLC Agrícola (SLCE3), São Martinho (SMTO3), Boa Safra (SOJA3) e Três Tentos (TTEN3).
4. Expansão do cooperativismo
Outro ponto de destaque nesse jogo vai para a força do cooperativismo. Conforme um levantamento feito pela ZMP, e levando em consideração as 25 maiores cooperativas do país, esse mercado cresceu 43% de 2020 para 2021. Só em 2021, o faturamento foi de R$ 173 bilhões.
Cada vez mais, as cooperativas estão abrindo lojas de insumos agrícolas e recebimento de grãos para além das regiões onde historicamente ficavam, fortalecendo seus negócios por outros estados nacionais, como o Mato Grosso do Sul e Goiás. Outro movimento que tem crescido é a expansão da industrialização das cooperativas.
Também merece destaque o crescimento das cooperativas via aquisição de outros negócios, como é o caso da Coopercitrus, que adquiriu a loja de venda de insumos de Goiás, Tamburí Agronegócios; a Cotrijal, que incorporou a Coagrisol; a C.Vale, que incorporou a Cooatol, e muitas cooperativas expandindo no segmento de máquinas agrícolas, a exemplo da Coplacana, com a Massey Ferguson, e a Cocamar com a John Deer.
Entre as áreas que mais se destacaram está a de insumos, que faturou R$ 45 bilhões no mesmo período do ano anterior, seguida da de defensivos, com R$ 13 bilhões. (Você pode conferir mais dados neste nosso post).
5. Mudança do perfil dos tomadores de decisões
Cada geração carrega características específicas do tempo em que nasceu e das experiências que viveu. Os nascidos em 2010, chamados de geração Alpha, por exemplo, manuseiam o celular com a mesma destreza que uma mamadeira. A geração Y (1980), por outro lado, embora já seja considerada nativa digital, ainda viveu um período de adaptação à internet que foi se popularizar na década de 90.
Isso para não falar das particularidades de tantas outras.
Uma pesquisa da Spark, de 2021, levantou algumas das características dos novos tomadores de decisões, como a faixa etária e a escolaridade. Desses, 56% são pessoas de até 40 anos e outros 37% tem até 60 anos. Quanto à escolaridade, mais da metade tem ensino médio completo (51%) e 38% também tem ensino superior.
Com idades, opiniões e visões diferentes, é preciso que as empresas, vendedores e consultores agronômicos estejam preparados para lidar com esses múltiplos cenários. Para isso, é essencial que eles busquem novas tecnologias e modelos de negócio. Flexibilidade e dinamicidade são peças-chaves para a abordagem desses públicos.
6. Cultura organizacional
Soma-se todas essas transformações (avanço tecnológico, vendas online, crescimento das cooperativas, IPO, perfil dos tomadores de decisões e, principalmente, a expansão e aquisição de empresas) e é preciso repensar em uma outra – talvez a mais importante: a da cultura organizacional. É ela a responsável por preparar o ecossistema para que todas as partes consigam desempenhar sua função em harmonia. É ela quem “faz as coisas acontecerem”, como diz Sandro Magaldi em “O novo código da cultura: vida ou morte na era exponencial”.
Se o agro tem passado por transformações nos últimos anos e vemos tendências despontando, é preciso preparar o terreno para recebê-las e fazer com que floresçam.